Personagem muito presente nas redes sociais, vista em shoppings e que fica mais na sala de seu apartamento do que no gabinete, onde só dá expediente frequentemente depois das 17h, a ex-vice de Amastha desde que assumiu, ainda deixa que outros decidam por ela. Com este perfil, ela tem agora a nova chefe de gabinete com amplos poderes e que já é vista por membros do primeiro escalão, lideranças comunitárias, o mundo político e até instituições como a prefeita de fato da cidade.
Por Saulo de Castro Abreu
Presenteada com o cargo de prefeita há exatamente um ano e cinco meses pelo ex-aliado e hoje adversário e inimigo Carlo Amastha, Cinthia Ribeiro, mesmo dona da caneta e, de direito, oficialmente no cargo, retomou a função de vice-prefeita. Aliás, ela nunca saiu desta função. Mais presente nas redes sociais e frequentemente vista em shoppings, no cinema e em Brasília, Cinthia Caetano Ribeiro nunca foi e não é muito afeita aos “insuportáveis” e burocráticos compromissos que o cargo exige, principalmente no período da manhã devido a característica notívaga e a dificuldade de acordar cedo, o que não é segredo para ninguém. Fato notório, é de conhecimento público e se espalhou por todas as repartições e departamentos das mais diversas secretarias municipais. Por essas e outras questões que, desde que assumiu o Paço, em abril de 2018, quando Amastha, graças a sua exacerbada prepotência, deixou Palmas para sofrer duas derrotas consecutivas na tentativa de se tornar governador do Tocantins, ela delegou a função de gestora da Capital de todos os tocantinenses.
Logo que assumiu, além de “limpar a casa” ao retirar aos poucos os companheiros do antigo aliado, nomeou como secretários quase numa tacada só o noivo, Eduardo Mantoan, e os verdadeiros homens fortes do governo por um bom tempo: Guilherme Ferreira e César Guimarães, exonerados recentemente das secretarias de Finanças e de Assuntos Estratégicos, Captação de Recursos e Energias Sustentáveis, respectivamente. Mantoan, o noivo que foi secretário, cuidava das chamadas “miudezas” da gestão: nomeações de amigos, aliados, as chamadas lideranças comunitárias e um número extraordinário de membros das mais variadas congregações evangélicas de Palmas. A prefeita Cinthia participou um pouco disso: também nomeou pessoas próximas, como funcionários de sua residência, amigas e indicados de amigas. Já Guilherme Ferreira e César Guimarães, com experiência do mundo político de Brasília e capacidade técnica invejáveis, atuavam no “macro”, nas questões de maior relevância da prefeitura. Coube aos dois cuidar desde as engrenagens da gestão ao relacionamento com a Câmara e demais poderes constituídos como o Tribunal de Contas, Ministério Público, entre outros. E fizeram bem seu papel. Por um bom período, verdade que ao custo de nomeações em cargos sem concurso, emendas e outros favores (tudo pago com o dinheiro dos impostos pagos pelos cidadãos que nada tem a ver com política), a relação da prefeita com os vereadores era ótima. Se dizia que a base era composta por praticamente toda a Câmara. À Cinthia Caetano Ribeiro, publicamente, cabia vestir-se da imagem de gestora e a presença em solenidades, lançamentos de programas e projetos que até agora, de fato, não saíram do papel.
Todo esse céu de brigadeiro começou a ficar nublado, com chuvas, trovoadas e ventos fortes a partir do momento que o noivo, Eduardo Mantoan, bateu de frente, reitero, com os verdadeiros homens fortes da gestão: César e Guilherme. Estranhamente, até denúncias mútuas foram parar no Tribunal de Contas. A temperatura entre o núcleo de casa com o núcleo da gestão da prefeita aumentou. E não foi graças ao “calor humano” da capital, slogan utilizado pela Prefeitura. A situação ficou insustentável. O noivo da prefeita empurrava a gestão para um lado. A dupla de Brasília indicava que o rumo deveria ser outro. Num dado momento, cansada do “disse me disse” que já começava a prejudicar a engrenagem, Cinthia conseguiu que o noivo se afastasse da gestão. Para o público alheio a negociações políticas, de maneira honrosa. Porém, para quem conhece os bastidores, nem tanto. De saída, Mantoan, o noivo, foi dirigir a Geap Autogestão em Saúde. O pedido foi da prefeita e a indicação foi chancelada pelo senador Eduardo Gomes, aliado de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro. Mantona, no entanto, não se manteve no cargo cuja função era de cuidar da saúde de servidores federais ativos, aposentados e familiares. Ficava mais tempo na prefeitura e, praticamente, não dava expediente no órgão. Resultado, foi “convidado” a sair. A permanência de Mantoan trouxe um desgaste tão grande para a gestão, nas mais diversas esferas, que até mesmo Guilherme e Cesar sucumbiram! Não suportaram o desperdício de tempo, de horas e dias em que se empenhavam apenas em esclarecer boatos, desfazer intrigas e contornar problemas causados pela relação prefeita-noivo-gestão. Desistiram e deixaram Palmas. Com eles, também foi embora uma mínima paz da prefeita. Com os verdadeiros homens fortes fora da gestão, quem estava meio escanteado e ressurgiu com ainda mais forte foi o noivo. Ele tem tempo para isso. Está desempregado até hoje. Não consegue se encaixar em lugar algum, mas não se importa de viver a vida de um típico “primeiro-damo”, com presença frequente ao lado da noiva em agendas oficiais em Palmas e até mesmo fora da cidade, como em Brasília, destino frequente de ambos, ocasiões estas que as despesas da prefeita são pagas por meio de diárias custeadas pelo humilde cidadão palmense pagador de impostos.
Como “primeiro-damo”, mas sem o traquejo político e, principalmente, confiança e credibilidade para costurar qualquer acordo e compromisso com fornecedores e vereadores, Mantoan não conseguiu manter a nave no voo de brigadeiro. Polêmicas, troca de farpas via redes sociais e até mesmo verdadeiros “barracos” de vereadores no oitavo andar do imponente prédio da JK alugado pela prefeitura foram vistos com frequência. Para socorrer a gestão, foi chamado o ex-vereador Carlos Braga, que apesar de uma figura pública respeitada, de bom trânsito entre os parlamentares, também não conseguiu desarmar as bombas neste importante campo minado para qualquer poder.
Um parênteses: Em meio a todo esse imbróglio, um fato significativo ocorreu e passou quase despercebido. Pouco depois da saída de César e Guilherme, quem também deixou a gestão foi a advogada Fernanda Cristina Nogueira, que respondia pela Procuradora-Geral do Município. Extremamente técnica e respeitada nos mais diversos gabinetes do TJ, TCE e MPE, ela foi trocada pelo advogado pessoal da prefeita, Mauro Ribas. A mudança, conforme os bastidores, se deve ao fato de a prefeita estar preocupada com a sanção da Justiça diante de algumas decisões e contratações no mínimo arriscadas que ela assinou.
Diante do cenário de instabilidade política, de gestão e temor do Judiciário, e com os arroubos da prefeita e suas polêmicas no Twitter, como censurar shows, impedir jovens de realizar carnaval de rua em estabelecimentos privados, como o Mujica Bar, Cinthia Caetano Ribeiro se convenceu que era necessário trazer uma pessoa para, de fato, cuidar da prefeitura de Palmas, enquanto ela segue no mesmo Twitter anunciando shows, eventos e uma obra aqui, outra acolá.
Muitos nomes foram sondados. Os convidados, após tomarem pé da situação ao receberem informações de bastidores fornecidas por pessoas da própria gestão (próximas ou não), desistiam de pronto. Entre os motivos, a inconstante personalidade da gestora, sua instabilidade emocional que contamina a todos ao seu redor, o fato de quase nunca receber secretários para despachos, procrastinar decisões relevantes e urgentes que culminaram em problemas que facilmente poderiam ser evitados e, ao contrário do que pensam, a rotina diária que mais privilegiava a sala de seu apartamento do que o gabinete, local que dedicava pouco tempo (em muitos casos, as reuniões com público interno e externo começavam a partir das 16h ou 17h; eram raros os compromissos anteriores a estes horários).
A busca de Cinthia Ribeiro terminou até encontrar uma pessoa de perfil técnico, com pouco relacionamento político: Mila Jaber, ex-integrante do Sebrae, aceitou e chegou recentemente à gestão para “arrumar a cozinha”, como a própria prefeita propagou aos quatro cantos. Mila Jaber assumiu a função e devolveu um pouco à Cinthia Caetano Ribeiro um pouco mais do que ela queria: delegou para a chefe de gabinete o relacionamento com os secretários, a solução de problemas burocráticos e até mesmo receber e tratar demandas com vereadores ou seus representantes mais próximos. Isso já trouxe reações. Ou seja: quase toda a atribuição de um chefe de Executivo. O distanciamento da prefeita com os secretários (as tais agendas “insuportáveis”) aumentou. Ninguém mais fala com a prefeita, tudo praticamente “é com a Mila”. Os membros do primeiro escalão, que já recebiam “chá de cadeira” e que sequer conseguiam despachar com Cinthia, estão mais insatisfeitos ainda. Carlos Braga, por exemplo, nem é mais procurado pelos vereadores ou seus representantes para tratar de demandas com o Executivo. Seu poder é tanto que, sem constrangimento algum, ela conseguiu emplacar como secretário executivo de Desenvolvimento Rural o marido, o fazendeiro Roli Jaber Júnior.
A entrada de Mila Jaber no prédio da JK não agradou uma pessoa, o noivo da prefeita, Eduardo Mantoan, que tem em mente ser ele o mentor da gestão, guru político e marqueteiro de Cinthia Ribeiro, que tenta a todo custo e sem o mínimo planejamento obter musculatura política para tentar reunir condições de se candidatar à reeleição. Já há apostas veladas em troca de mensagens entre os próprios secretários sobre até quando a ex-funcionária do Sebrae suportará as pressões, o disse me disse e as picuinhas que reinam no ambiente da chefe do Executivo palmense.
Se externamente Mila já causou impactos para a gestão de Cinthia, no seu núcleo mais próximo muita coisa mudou também. Ela impôs um ambiente mais rígido no gabinete (até mesmo servidores da Prefeitura só entram neste ambiente com sua autorização), redefiniu algumas rotinas dos funcionários e até mesmo se instalou na sala que que era da então vice-prefeita Cinthia nos tempos de Amastha. A ampla e luxuoso lugar, que com a saída de Amastha foi transformado em sala de espera dos visitantes e convidados da prefeita, agora é de Mila Jaber. E fica a uma porta do gabinete principal, de Cinthia, que quase todas as manhãs fica com as luzes apagadas.
Membros da articulação política e os poucos aliados que restam (principalmente, alguns vereadores que ainda têm cargos e são atendidos pela estrutura da gestão) não gostaram muito das mudanças. Dizem que as normas aumentaram ainda o problema que prejudicou até agora Cinthia: a blindagem aumentou. Entendem que já passou (há muito tempo) da hora de Cinthia deixar o enclausuramento do gabinete (ou da sala de sua casa, onde fica a maior parte do tempo) para ir para a rua se se “apresentar à população”, diante de pesquisas internas que apontam que muitos palmenses nos setores mais afastados nem sabem quem ela é. Mila Jaber incorporou a função, na prática, de prefeita, enquanto Cinthia Ribeiro vive sua rotina de vice, Rainha da Inglaterra do Cerrado, que só quer lacras nas redes sociais, aparecer em eventos sociais, coquetéis e posar para fotos como gestora.
Se por um lado Mila Jaber se sente como vice-prefeita, na prática, mesmo não tendo o poder da caneta, símbolo da hierarquia e do poder de decisão, é vista pela gestão como a prefeita de fato, não de direito. Cinthia Caetano Ribeiro não se preocupa com a repercussão e os possíveis resultados políticos e eleitorais disso. Apesar de algumas reclamações da nova chefe de gabinete/vice-prefeita já terem chegado a Cinthia Caetano Ribeiro, ela segue sua rotina como uma coadjuvante de luxo na gestão de Palmas, quase uma versão de Rainha da Inglaterra do Cerrado. E mais satisfeita ainda que, graças a Mila, Cinthia voltou a ter o privilégio que poucos trabalhadores brasileiros têm: conseguir, sem receio e preocupação com rótulos negativos, de poder dormir até mais tarde em dias de semana, enquanto os “cidadãos normais” estão em plena atividade e produzem para o desenvolvimento do município, do Estado e do Brasil.