Carlos Henrique Furtado
Dia amanhecendo. Abri os olhos e vi dobras no meu braço. Não levantei, fiquei pensando, sentindo, percebendo a vida na transformação de meu corpo. Já se vão 61 anos. Daqui vinte um dias serão 62.
Nem preciso pesquisar no Google para procurar explicações médicas ou científicas, sobre o envelhecimento do corpo. Esse "amarrotamento" é a perda de colágeno e elastina, bem como gordura subcutânea. Mas tudo bem, como se diz são as marcas do tempo.
Mas não me preocupo com as transformações externas, essas são inevitáveis e não me afetam, talvez para os outros sim. Olhei para as mudanças internas e as marcas que deixaram, ou estão aparecendo.
Interessante que pensamos e queremos agir como se não houvesse idade. Tipo vou correndo até a esquina pegar o cachorro que fugiu. Calma. Não é bem assim. O corpo pode não dar conta de tal esforço.
A paciência aumentou. O saber esperar. Mas à mesma proporção que a intolerância. Dúbio, não? Mas comigo está assim. Intolerância a discursos vazios. Intolerância à falsidade. Intolerância à falta de respeito com minha inteligência.
O coração algumas vezes acelera. Um amor? Não. Dizem que é taquicardia. Mesmo sendo nos remete às primeiras paixões, ao tremor das pernas ao ver, mesmo ao longe, a pessoa motivo de nossos sentimentos. Mas com o tempo isso se transforma em lembranças.
Por outro lado ficamos mais sentimental. Nos emociona uma palavra amiga. Nos emociona um gesto sincero. Um toque que tenha alguma dose de carinho. Detalhes tão pequenos mas que começamos a dar muito valor, talvez porque comecem a ficar raros.
Fala-se muito na qualidade do sexo. Pra mim analiso como primordial, porém, seletivo. Não se busca mais o fazer por fazer, por quantidade, por auto afirmação, mas por ser compensador, lógico que dentro das fantasias e desejos de cada um.
Apesar de todas as mudanças que venho observando, meu corpo está em processo de reação, incomodado com algumas situações, e reagindo a questionamentos externos. Com isso, nasce um impulso a seguir numa busca, numa mudança.
Na adolescência, e por muitos anos, se busca a felicidade. Mas leva-se anos para saber o que é felicidade. Não um conceito geral que se encaixe a qualquer um. A felicidade é pessoal, com definições e parâmetros de cada uma. Para mim a tranquilidade no dia a dia, paz de espírito, conversa, companheirismo, amizade, são ingredientes básicos que compõe esse sentimento.
Com o passar do tempo vamos nos apegando a pessoas e situações que se olharmos de perto vemos que é apenas por lembranças e sentimentos que já passaram. O que pode levar à muitas vezes a relutar em deixar para trás pessoas, ou situações, que em nada mais nos contribui.
Os amigos vão rareando à medida em que nos tornamos mais contundente, ou radical, como alguns veem. Ao viverem em um mundo de representações e falsidades generalizadas, todos buscam a representação da amizade através de seu apoio em apenas concordar, sem questionar. Aí é complicado. Nas opiniões diferentes é que se chega ao ideal. Com tudo isso muitos amigos se vão, mas ficam os que tem maior discernimento e não olham apenas para si próprio. Não quer dizer que os que ficam são mais amigos, apenas são mais coerentes, e olham por cima deles e enxergam o outro.
Não pense que esse texto é de desabafo, de mágoa, de tristeza, NUNCA! É de auto análise, é da certeza do porque das transformações, pelo menos na minha vida, e de como devemos encará-la e transformar em combustível interior para mudanças que estão para ocorrer.
Sigo meu caminho na busca do que acredito. Hoje está ótimo, apesar de algumas coisas, mas com certeza amanhã será excelente. Quanto a Felicidade, bem essa me aguarde, irei encontrá-la. Essa é minha luta quixotesca numa vida que muitas vezes a razão é distorcida, e os sentimentos são contraditórios.