Da Redação
A capacidade de negociar do colombiano ex-vendedor de cursinho de inglês — ou “vendedor de sonho”, como ele prefere nomear — é o segredo do sucesso do empresário que saiu do 0,7% de intenções de voto das pesquisas para ganhar a Prefeitura de Palmas (TO). Considerado um fenômeno político, por ter vencido a elite e figuras tradicionais do Tocantins, ele negou o convite para se candidatar ao governo do estado, mas não descarta uma possível candidatura em 2018. Em Brasília para a posse de Ricardo Lewandowski, como presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ele se orgulha de ter sido o “único prefeito a estar naquela salinha como convidado do próprio ministro”. Ao lado da mulher, Glô, ele conversou com a reportagem do Jornal de Brasília depois de prestar homenagem ao ministro.
O que fez um empresário de sucesso resolver entrar para a política?
Fui morar em Palmas, porque sou empresário do ramo de educação e surgiu a oportunidade de abrir uma faculdade, em parceria com a undação Universidade do Tocantins (Unitins). Quando fui a Palmas, pensei que um dia construiria um shopping lá. A pesquisa de mercado era boa, mas as grandes empresas tinham dificuldade logística de chegar lá. Precisei falar com a presidência do Cinemark, nos Estados Unidos, com o dono do McDonalds. Deu muito trabalho, fiquei muito envolvido com isso e acabei me mudando pra lá. Na legislatura passada, passaram um projeto de expansão do plano diretor de Palmas, querendo fazer mais 15 quilômetros para o norte e 15 para o sul. Eu fiquei indignado, por que uma ponta a outra da cidade tem 40 quilômetros, para uma população que tem menos de 300 mil habitantes. Eu não entendia nada de administração pública, mas, como cidadão, sabia que aquilo estava equivocado. Aí montei um movimento suprapartidário para chamar a atenção da Câmara de Vereadores. Foi quando me toquei que nenhum político faria alguma coisa e resolvi me candidatar. Fui objeto de piada, por que a primeira pesquisa mostrou que eu tinha 0,7% das intenções de voto.
E o senhor tinha apoio político?
Eu tinha PP, PPS e PCdoB, que eu fazia questão de estar na minha coligação, por que daria pedigree à minha campanha. Por que os comunistas se juntariam a um empresário? Ninguém conhecia a minha história. Achavam que eu tinha sangue azul, era o “dono do shopping”, mas eu comecei vendendo cursinho de inglês. Tinha apenas três minutos na TV e ganhei a eleição. O melhor programa que gravamos foi no Taquari, o bairro mais pobre de Palmas, para onde me mudei esta semana. E vou ficar lá até todos os problemas serem resolvidos. Lá, eu falei a frase que me fez ganhar a campanha.
E qual era a frase?
Mostrei imagens do centro da cidade, com infra-estrutura e ninguém morando, e imagens do Taquari, onde não tinha uma rua asfaltada e tem quase 15 mil habitantes e disse: eles não entendem o que eu falo e eu não entendo o que eles fazem. Isso é por que viviam dizendo que não entendiam o que eu dizia por ser colombiano.
A que o senhor atribui o sucesso de votos?
O Brasil saiu às ruas para protestar em junho de 2013. Palmas fez esse protesto em outubro de 2012. Palmas teve oportunidade de protestar antes de todo o Brasil.
O senhor teve apoio do setor produtivo?
Todos votaram contra. Eu ganhei a eleição na periferia. O centro e todo o empresariado foi 95% contra.
E como foi o desafio de governar sem o apoio da Câmara de Vereadores?
Elegi um vereador do meu partido e outros dois da coligação. Eu tive a sorte de que o vereador do PP fosse escolhido o presidente da Câmara. E foi presente de Deus mesmo. Compor maioria na Câmara não foi difícil. Sou vendedor, vivi a vida inteira vendendo curso de inglês e vender curso de inglês é vender sonho, é intangível. Então, eu tive a capacidade de engolir barbaridades e estabelecer limites de relacionamento. Não foi a mais difícil negociação, por que a Câmara estava renovada - apenas quatro vereadores foram reeleitos. Meu vice não quis assumir. Ele era deputado e ficou com medo de eu sofrer um impeachment, conforme os adversários prometiam. Aí comecei a tomar medidas para arrumar a casa.
E como é que foi isso?
Peguei a prefeitura com o caixa negativo e fui comprar as brigas. A primeira foi com a Odebrecht, que tinha a concessão de água e esgoto. Depois de meses de guerra, refizemos o contrato e consegui com eles o investimento de R$ 40 milhões em obras. Depois, enfrentei os empresários quando tentei aumentar o IPTU, por que pagavam imposto rural, no centro da cidade.
O senhor disse que, no começo da carreira, vendia sonhos. O senhor acha que ganhou a eleição por que vendeu o sonho?
Com certeza. Eu diria que os palmenses são loucos de terem votado em mim. É como se eu fosse o Messias e isso é perigosíssimo. Eu era um gringo, que ninguém conhecia. Quando comecei a crescer nas pesquisas, os adversários começaram a me atacar, da maneira violenta. Tentaram encontrar podres da minha história, mas não encontraram ninguém que falasse mal de mim.
Por que o senhor não aceitou a proposta para ser candidato ao governo este ano?
Eu estava na metade do mandato e jamais iria decepcionar os palmenses e também não deixaria um trabalho sem conclusão.
Em 2018, o senhor será candidato ao Governo do Tocantins?
Daqui a quatro anos, tudo é possível. Não saí da prefeitura no segundo ano de mandato, por que seria uma traição à confiança da população. Mas, eu não penso em política de família. Acredito em construção de poder de grupo, juntando os melhores. Estou trabalhando para entregar o controle da prefeitura à sociedade civil organizada. Criei um conselho empresarial independente que toma decisões. E nunca mais vai ser eleito um prefeito em Palmas que não tenha anuência desse conselho. Isso é para que os próximos prefeitos sejam reféns do que já está organizado. Planejamento não se discute. Não é política, é técnica. Eu acredito muito no planejamento e em um trabalho de grupo.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília