O livro, com 228 páginas, da Cerrado Editora, fundada e dirigida por Antônio Oliveira, será lançado no dia 19 de janeiro, em Dianópolis, por ocasião das solenidades que reverenciam os 100 anos do Barulho. Um vídeo documentário do autor, com o mesmo tema será lançado nesta mesma ocasião. As duas obras serão lançadas também, posteriormente, em datas a serem definidas, em Barreiras (BA) e Palmas (TO).
Da Redação/Tocantins 24h
Jornalista e escritor Antônio Oliveira |
Oliveira, filho natural de Dianópolis, mas criado em Barreiras no oeste da Bahia até aos 7 anos de idade, e até sua juventude em Goiânia, foi o primeiro profissional de imprensa a escrever um artigo de uma página de jornal stander contestando Bernardo Elis, no que encontrou resistência de editores de cultura de dois grandes jornais goianos, até que foi publicado por um deles, por ordem de seu dono e editor geral. Depois disto, outros artigos, com este tema, da lavra de Oliveira, foram para as rotativas dos jornais de Goiás e Tocantins.
O homem Abílio Wolney- trecho do livro
Antigo nordeste goiano, hoje sudeste do Tocantins, vila de São Jose do D’ouro (ou Duro), hoje Dianópolis. Lugarejo pacato, onde predominavam quatro principais famílias: os Póvoa, os Wolney, os Rodrigues e os Costa. Entre elas um jovem se destacava por sua liderança política que extrapolava as fronteiras daquela microrregião goiana e ia até o oeste da Bahia: Abílio Wolney, uma liderança que
ameaçava a oligarquia dos Caiado, poderosa em Villa Boa (hoje Cidade de Goiás), então capital de Goiás, que tinha na principal cadeira deste Estado, Antônio Ramos Caiado, o “Totó Caiado”.
Essa oposição de Caiado a Wolney tinha suas ramificações na Vila do Duro por meio de altos funcionários públicos, como um Juiz de Direito e um Cartorário. A ordem era destruir a crescente liderança política de Abílio Wolney, filho de um dos homens mais ricos daquela região, senhor de milhares de cabeças de gado e vastas extensões de terra, Joaquim Wolney.
Esta oportunidade surgiu, segundo se evidencia no desenrolar dos fatos, a partir de um desencontro entre o cartorário Sebastião de Brito e Abílio Wolney – dois primos -, este era advogado de uma viúva que tinha processo de inventário tramitando no cartório da Vila. Esse inventário foi o estopim para que os dois parentes se desentendessem.
Esse desentendimento foi o que Totó Caiado tanto queria para destruir Abílio Wolney: enviou para o pequeno vilarejo uma tropa de mais ou menos 50 soldados, mal preparados e equipados, comandados por um Juiz sedento de poder e na expectativa que sua missão lhe daria isto.
#vemprocapitão
O resultado foi o assassinato covarde de Joaquim Wolney por traiçoeiros soldados, após “um acordo de cavalheiros” entre os Wolney e o juiz Celso Calmon, o comandante da tropa militar e de mais alguns jagunços arrebanhados para engrossar as fileiras do Estado; a fuga de Abílio Wolney, que escapando de balas assassinas oficiais, fugiu para Bahia e Alagoas onde contratou um batalhão de jagunços para tomar sua terra das mãos da tropa de Caiado. O resultado foi a chacina de nove filhos
da terra, tomados como reféns e presos a um tronco.
O fato ganhou ainda mais notoriedade quando caiu nas páginas de livros, principalmente do autor goiano, Bernardo Elis, que o romanceou, em 1956 – de forma deturpada, diga-se -, sob o título de “O Tronco” e que ganhou as telas de cinema em 1999.
Elis foi seguido por vários outros autores que descreveram a Chacina, como o professor Osvaldo Rodrigues Póvoa, descendente de uma das vítimas da tragédia, que escreveu e publicou “Quinta-Feira Sangrenta”; outros biografaram o Cel. Abílio Wolney ficando sempre a pergunta: “bandido ou mocinho”.
Para compreender melhor a história e o livro Fragmentos do Prefácio do livro, feito por um dos netos do Cel. Abílio, Dr. Abílio Wolney Neto, Juiz de Direito de Goiânia e um dos biógrafos do avô:
“...Antônio Oliveira põe a efeito a biografia do Homem Abílio Wolney, tão importante para se compreender os movimentos revolucionários de sua época no setentrião goiano-baiano, lá onde as fronteiras dos estados foram galopadas pelo estadista da Serra Geral. Norte goiano, hoje sudeste do Tocantins. Oeste baiano, hoje a próspera Barreiras, onde o autor se ambienta em livro denso, mergulhado nos conteúdos do início da República, no primeiro quartel do Século XX, enfiando-se nos socalcos do Planalto Central, quando uma hipótese geográfica foi submetida ao capricho da paixão e do poder da oligarquia mais violenta do Brasil.
Num belo aprumo de escritor, noticiarista, plumitivo e redator, se faz repórter dos autores que cita em sua obra recorrente aos textos dos que narraram essa página fulgurante de heroísmo libertário, de oposição aos mandos e desmandos, mas também tarjada de horrores, no ponto culminante do episódio nas aldravas do tronco, a reboque da chacina do Duro, entre o barulho e os mártires em 1919.
Traz à colação, dentre outros, o escritor Godoy Garcia, para quem Totó Caiado era em Goiás a lei e a borracha. Uma voz, uma única voz se levantou, de forma aberta contra o impulsivo sátrapa, a do Deputado do norte de Goiás, Abílio Wolney. Foi, nesse dia, um ato heróico. Voz destemida que se levantava, todos reconhecendo a temeridade daquela resistência, no vigor da atitude política que viria colocá-lo no pelourinho, hoje ou amanhã.
É trabalho de pesquisa, no coleio dos fatos protagonizados, com a qualidade de resumir numa só obra a saga do protagonista, onde hoje está Dianópolis, sudeste do Tocantins, de par com Barreiras, oeste da Bahia. E vem com o sabor de um documentário jornalístico, resultado de anos de vivência na Terra das Dianas, colhendo aqui e ali da tradição oral, lendo tudo a respeito e descerrando o pano de boca dos acontecimentos, biografando, atravessando o épico, a política, o poder, a tragédia, as quedas e ascensões até o sequestro e morte dos nove ou dez reféns.
Rico nas fontes e bibliografia, documenta tudo, faz remissão aos anais do Diário do Congresso Nacional de abril de 1919, passa pelos autos do processo goiano que apurou as responsabilidades do Juiz e comissionados e esclarece em caracteres de monografia, com o arrojo de Dissertação.
E denuncia... A comitiva policial que forma a corte do Juiz Celso Calmon visava ao final promoções e vantagens escusas; o soldado era um elemento despreparado, que não compreendia a própria função a desempenhar; era um medroso feito homem, desde que armado, assim escondido atrás da espingarda sobraçada, da comblain a tiracolo, feito uma canga dependurada no pescoço, e que no
final só lutaria para não morrer; eram todos subornáveis, corruptos, porquanto sabiam que os donos do poder, os políticos que estavam por trás de tudo, não se preocupavam com ordem nem justiça, senão com medidas capazes de assegurar seus votos, suas eleições. Abílio era uma oposição perigosa no nordeste goiano, com os arroubos de chefe local.
Por aí vai o jornalista Antônio Oliveira, pervagando essas estradas que deram um épico e que o vai consagrando como escritor. Nos remete ao dia 20 de Dezembro de 1918, como narrei alhures:
No raiar do dia foi ter o magistrado capixaba ao Buracão. Na retaguarda, o Tenente Catulino, o cabo Mathias e o civil Alexandre, seu cabra particular, mais o Escrivão ad hoc Guilherme Ferreira Coelho. Vão desarmados à fazenda do “inimigo”, ficando na Vila a força pública e os comentários nos aquartelamentos: – Como é que o juiz saiu em segredo, sem avisar a tropa? Dizem que foi fazer a busca e apreensão do Inventário. Trincheiras abertas no cume dos morros e algumas tranqueiras pelo flanco das colinas.
Garantidos desde a noite anterior, amanheciam de bruços, outros com os olhos fixos por trás de colmos, dedos enclavinhados nos fechos das armas, tocaiavam a estranha visita...
Quanto à abordagem da direção que o cinema deu ao episódio é bem analisada na Segunda Parte da obra, onde o autor trata do “Barulho” no ambiente cinematográfico, apontando os erros publicados em livro. Fala da queixa-crime proposta contra o Diretor do Filme O Tronco, que não foi julgado, posto que tida como decadente no tempo.
De tudo cuida o autor... Fala da repercussão dos fatos na imprensa nacional da época, as manchetes... A investida das forças federais, quando da Intervenção da União, culminando num relatório ao Ministério da Guerra, com conclusões, como lembra o autor, que corroboram com o objetivo do seu trabalho: trazer a público as verdades desse fato da história de Goiás e parte da Bahia que foram ocultados por interesses pró-fama literária e políticos. Eis o texto final do Relatório da Intervenção
Federal em Goiás, elaborado pelo Major do Exército, Álvaro Mariante, publicado na Imprensa Oficial em 1919, cuja cópia foi encaminhada ao Congresso Nacional para providências:
Recapitulando agora, depois de compulsar os documentos colhidos, longe do teatro dos fúnebres acontecimentos que nos foi dado estudar em pondo em exercício a máxima imparcialidade e os mais acrisolado sentimento de verdade e de justiça, podemos concluir em síntese:
A- Os lamentáveis acontecimentos de São José do Duro derivam da ação política e administrativa dos atuais dirigentes do Estado de Goiás;
B- Há indícios de que o Governo do Estado cabe grande responsabilidade ao fúnebre desfecho do conflito;
C- A autoria da polícia goiana nos assassinatos de Buracão e São José do Duro é irrefutável;
D- A ação de autoridades estaduais orientadas pela facção política dominante no Estado é perigosa e pode ser contraproducente;
E- A ação de autoridade federal estranha ao conflito ou a simples presença da tropa do Exército naquela região pode, bem orientada, fazê-la voltar ao trabalho pacífico e produtivo.
Lembra do vulto pacificador do Deputado Francisco Rocha, médico e então Intendente de Barreiras, que se pôs a cavalo na direção de São José do Duro, como segurança e norte ao Chefe do Estado Maior do Exército Brasileiro.
O trabalho do autor evoca um épico de lances dolorosamente heróicos, embaído nas cenas fortes, pois o mártir é fadado ao martirológio. Refunde a linguagem parafraseada para traspor novamente os Sertões, agora para dentro de um Sobrado:
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