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Por *Sérgio Alves de Oliveira
Em degraus menores, no âmbito interno brasileiro,poderiam ser citadas como tais a queda de Jânio Quadros,em 1961,a Revolução de 1964 (golpe ou contragolpe,não importa a denominação),que começou o Regime Militar, as “Diretas Já” ,iniciadas em 1983, o “impeachment” de Collor de Melo ,em 1992,primeiro produto das “diretas-já” (já começou mal), e mesmo a ascenção do PT ao poder,que agora está no quarto mandato consecutivo ,causando inestimáveis estragos à sociedade,onde a democracia cedeu definitivamente o seu lugar à OCLOCRACIA (regime de mando na idiotocracia) ,como forma de governo.
Trabalhando um pouco sobre o primeiro tipo de “estouro”,o da boiada,a constatação é que isso ocorre quando repentinamente a manada bovina passa a se movimentar em desabalada correria ; arrasta,quebra e destrói tudo que encontra pela frente,não poupando cercas,árvores ,pessoas e o que mais estiver à frente da trajetória.
O chamado efeito-manada acontece invariavelmente no momento em que os vaqueiros menos esperam. Nem é preciso algo de grande impacto para ocasioná-lo. Euclides da Cunha,em “Os Sertões” constatou que ele pode começar com “o súbito vôo rasteiro de uma araquã “.
Aparentemente ,esse “vôo “ rasteiro da ave,por si só,não poderia ocasionar resultados tão destruidores. Mas com certeza existem outros motivos relevantes por trás. Provavelmente seria produto da libertação de sensações desagradáveis e recalcadas em momentos anteriores no rebanho.
Poder-se-ia até usar, por analogia ,a expressão de Nelson Hungria,ilustre criminalista,para explicar os motivos de um crime. Seria mais ou menos o seguinte: O sujeito mata o outro após a vítima “mostrar-lhe a língua”.. Mas antes ,o “cara” havia matado a mãe dele,estuprado a sua mulher e uma filha ,além de dar uma surra em todos os seus outros filhos. O motivo que o levou a matar não foi a última ofensa de “mostrar a língua”,mas ao anteriores. A língua mostrada foi a “gota d’água”,o ato que desencadeou a reação mortal. Neste sentido,também o vôo da araquã ,no cenário imaginado por Euclides da Cunha.teria sido a “gota d’água” do estouro da boiada.
Se buscarmos nas suas profundezas as verdadeiras causas que originaram os revoluções ou grandes mudanças no mundo ou internamente dentro dos países,sempre vão aparecer aspectos sociais,políticos,econômicos e religiosos,dentre outros. Mas todas essas mudanças,sem exceção, tiveram as suas respectivas “gotas d’água”,que originaram os “estouros-de-boiada”. Na antiga Rússia foi a incapacidade do “Czar” para extirpar a pobreza extrema em que vivia o povo e os privilégios da classe dominante. Em França,os exorbitantes tributos cobrados do povo por Luis XVI para recuperar o “rombo”da Coroa (qualquer semelhança com a situação brasileira atual é mera coincidência).
Na Revolução de 64,no Brasil,as “Reformas de Base”e os discursos de Jango e Brizola na Central do Brasil,no Rio de Janeiro,em 13.03.1964,poucos dias após (31.03.64),apeados do poder.
Já o “estouro da boiada”da ascenção do PT ao poder deu-se após o fracassado período dos “tucanos” no poder e de todos os outros governos que se sucederam antes dele após o Regime Militar,que já não havia sido exemplar. A “gota d’água” do império do PT foi a esperança (frustrada)de mudanças para melhor prometidas na campanha eleitoral.
Mas é importante sublinhar que nem todas as revoluções ou grandes mudanças no mundo tiveram virtudes no sentido de melhorar a condição de vida dos respectivos povos. Muitas tiveram efeitos contrários. Pioraram a vida dos povos.
Destaque especial merece a mudança proveniente das “Diretas Já”. Começa pela “piada” do seu primeiro resultado: Collor de Melo.
Mas comparado com os outros que o sucederam nas “diretas já” seguintes,Collor ainda foi um “estadista” A “gota d’água” que o derrubou no “impeachment” não foi aquela baboseira que disseram no respectivo processo de impedimento. Ele não tinha o Congresso na “mão”,como hoje ocorre ,e iria tomar severas medidas contra a especulação transnacional. Hoje, os banqueiros “gringos”,têm toda a proteção governamental e aqui ganham, mais dinheiro que em qualquer outra parte do mundo.
Resumidamente: Collor “pecou” em grau infinitamente menor do que os pecados de hoje. Suas “irregularidades” não chegam nem aos “pés”das que hoje são cometidas. Mas ele sofreu “impeachment”; os “outros”,com irregularidades fantasticamente maiores,não.
No Brasil,o estado-de-espírito da parcela do povo que ainda consegue pensar e agir com independência começa a dar indícios que o “estouro-da-boiada” para mudar o “status quo” não vai demorar. Entretanto sabe-se que terão que ser tomadas medidas fora das rotinas habituais.
O que falta é a “gota d’água”. Um só gesto de impacto,um “ estrondo” qualquer , desencadearia com certeza toda uma revolução.melhor dito,o “estouro-da-boiada . Mas a sociedade civil foi imobilizada pelo governo que deveria dar-lhe segurança e não dá. Ninguém nem têm como dar o primeiro “estrondo”. Só têm equipamentos que causam “estrondos” os bandidos e os frouxos habilitados para tê-los,mas que não têm coragem de usá-los em defesa da soberania nacional, democracia ,e mesmo direitos humanos.
Para que isso aconteça,cada um deverá encontrar os seus próprios fundamentos,que poderão ser de ordem econômica,social,política,ideológica,moral,religiosa e o que mais for preciso,ou mesmo JURÍDICOS ,onde o autor desse escrito se “agarra” ,noticiando seus fundamentos no texto “IMPEACHMENT : PARLAMENTAR OU MILITAR?”,já publicado,que por seu turno deverá ser avaliado à luz do disposto no art.142 da Constituição Federal (Intervenção Militar).
*Sociólogo e Advogado Gaúcho