Foto: Wolfgang Teske |
Convivo com o ambiente universitário há mais de três décadas, tendo acompanhado, convivido, promovido e dirigido algumas centenas de eventos que ocorrem neste meio.
Por *Wolfgang Teske
Ontem, dia 24 de abril de 2014, estive presente com alguns familiares em um momento muito especial, a formatura de uma grande amiga, integrante da primeira turma do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Tocantins (UFT). Indiscutivelmente, um momento importante, marcante para os formandos, familiares e seus amigos e, em especial, para a própria UFT, por se tratar da primeira turma de formandos como bacharéis em enfermagem.
Naturalmente, entende-se que é um motivo de muita alegria, euforia até, regozijo e festa, de muitas fotografias e parabenizações. No convite enviado a todos os convidados constava, inclusive, que seria uma cerimônia solene de formatura. Pois bem. Até aqui tudo certo. O que me surpreendeu, como aliás, está ocorrendo em todas as cerimônias "solenes" de formatura de qualquer curso na UFT é que os familiares e amigos adentram no auditório com muitas, diga-se de passagem, várias dezenas de apitos e buzinas para festejar naquele recinto fechado onde ocorre uma cerimônia solene de colação de grau.
Antes mesmo de iniciar a cerimônia, crianças, jovens, adultos e até um ou outro vovô e vovó estão assoprando em apitos e os mais jovens acionando buzinas que fazem estremecer todo o ambiente e ensurdecendo todo mundo.
Foto: Wolfgang Teske |
O incrível é que mesmo os que não são familiares daquele formando que está desfilando até o local reservado sobre o palco, fazem uma algazarra, gritando, apitando e buzinando. A Zorra Total é tão grande que mesmo após, todos os formandos estarem posicionados e a magnífica vice-reitora da UFT fazer a abertura oficial da solenidade, poucos conseguem entendê-la e ouvir que a cerimônia já iniciou.
Quando finalmente o Hino Nacional é anunciado, os apitos e buzinas cessaram por um momento e pode-se perceber o ouvido apitando, numa demonstração que fora profundamente afetado pelos ruídos produzidos anteriormente.
Da mesma forma continuou toda a cerimônia. O barulho apenas cessava durante os discursos, para imediatamente terem continuidade na entrega dos diplomas e homenagens.
Colocado isto, é necessário levantar algo de suma importância. O que está ocorrendo dentro da UFT, em cerimônias de formatura é algo grave, sério e incorre em crime ambiental, poluição sonora, além de não seguir orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) que dá claras e pertinentes orientações sobre este assunto.
A OMS, após vários estudos aprofundados estabeleceu para a próxima década algumas prioridades ecológicas sobre poluição sonora, e afirma que o ruído acima de 70 decibéis pode causar dano grave à saúde. Os ruídos durante a cerimônia de colação de grau ultrapassaram em muito, mas em muito mesmo esta cifra. Cabe ressaltar, portanto, que o problema dos ruídos excessivos não é uma questão de gostar ou não, e, sim, é uma questão de saúde.
Sob o aspecto legal, todos os problemas que se referem à ruídos excessivos estão incluídos entre os sujeitos ao controle da poluição ambiental, cuja normatização e estabelecimento de padrões compatíveis com o meio ambiente equilibrado e necessário à sadia qualidade de vida, é atribuída ao CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), de acordo com que dispõe o inciso II do artigo 6º da Lei 6.938/81.
Além disto assevero o que está disposto no artigo 42, do Decreto-lei 3.688/41, que institui a Lei das Contravenções Penais, no inciso III: "– abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos".
A situação é séria e merece uma atenção e normatização da Universidade Federal do Tocantins com urgência. Cabe à Instituição impor regras e normas à cerimônias desta natureza. Da forma como está, perdeu-se o sentido de solenidade, pois mais parece o comportamento de torcedores em um estádio de futebol.
Em cerimônias solenes de formatura, festejar sim, se alegrar e vibrar faz parte, chorar também, mas tolerar afrontas à saúde humana, crime ambiental e poluição sonora não cabe e não pode fazer parte.
* É jornalista, educador e teólogo, pós-graduado em Docência do Ensino Superior e Mestre em Ciências do Ambiente/Cultura e Meio Ambiente. Reside em Palmas-TO, desde 1992, onde implantou o Complexo Educacional da Universidade Luterana do Brasil, sendo o seu primeiro diretor. Foi diretor de Relações Empresariais e Comunitárias da Escola Técnica Federal de Palmas, hoje IFTO, na sua implantação. Atualmente, é professor e pesquisador da Universidade Federal do Tocantins. Autor dos livros A Roda de São Gonçalo; Cultura Quilombola; co-autor do Fotolivro Roda de São Gonçalo e diretor de produção do FilmeA Promessa. É Cidadão Palmense e Membro da Academia Palmense de Letras - cadeira nº 17.